Ensino
"Ser professor é guiar o aluno "para a vida"
Por Célia da Costa Marianno*
Minha História começou em setembro de 1979, quando, depois de décadas de formada, fui buscar o diploma na gaveta. Após ter me inscrito na DE, fui chamada para assumir uma 4ª série na E.E. Dr. Álvaro de Souza, em São Paulo (SP). A diretora estava muito preocupada com a evasão dos alunos e a falta de professores: quando entrei na sala de aula, não tinha mais de 12 alunos na faixa etária entre 11 e 13 anos. Fiquei atônita, não sabia o que fazer. De repente, como escreveu o filósofo Nietzsche, a criatividade vem como um raio e não temos como detê-la. Foi o que aconteceu.
Apaixonada por livros e leitora precoce, surgiu na lembrança a história da Águia e da Galinha, de Leonardo Boff. Contar a história foi a minha aula. Foi um momento mágico - interagi com os alunos usando a força da águia como elemento de reflexão e de estímulo, explicando que cada pessoa tem dentro de si uma águia. Ela quer buscar o sol e por isso estamos sempre procurando libertar a águia que nos habita.
No dia seguinte, a classe estava lotada e eu soube que eles comentaram na comunidade que eu era legal e diferente. Naquela tarde descobri minha vocação: sou comunicadora, portanto sou educadora. Hoje, quando me lembro do primeiro dia de aula, vejo que trabalhei, sem saber, o meu projeto - usar a arte como fio condutor (literatura, poesia, música erudita), pois ela promove uma união entre a formação acadêmica, assim como estimula a sensibilidade, a reeducação afetiva e a reflexão sobre os valores morais e sobre a conduta.
Organizei uma coletânea de textos e poesias, tendo como objetivo em cada texto interagir com os alunos, e, como atividade, texto de opinião sobre o tema. Leitura de poesias, incluindo a música erudita com CDs, DVDs e projeto para o Conceito Didático da Sala São Paulo e Teatro Municipal. Tendo a arte como fio condutor, atingi o meu objetivo: guiar o aluno para a vida, um movimento de descoberta que auxilia o aluno a pensar, refletir sobre sua vida, a família, a solidariedade, os valores etc. Na formação acadêmica, auxiliar o aluno a criar novos textos, abrir condições para expandir a potência de criar - pois, sem a criação, não há aprendizagem: "Sem a arte não se forma o homem".
Com esse trabalho na área de português, encerrei minha carreira em janeiro de 2007, na E.E. Seminário Nossa Senhora da Glória, por problemas de saúde. Tenho alunos cursando as 7ªs e 8ªs séries no seminário, e sempre que posso vou vê-los, pois eles foram minha força geradora e me fizeram acreditar que transformar é possível.
A seção 'Retratos' traz a cada edição as histórias de quem faz história dentro das salas de aula. Compartilhe sua experiência conosco: l.portuguesa@ criativo.art.br
Revista Língua Portuguesa
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